O FIM do Planejamento Estratégico?
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O FIM do Planejamento Estratégico?


Por décadas, especialmente desde a Revolução Industrial, as organizações têm se apoiado (algumas com certo deslumbramento, é verdade) em ferramentas e metodologias para a construção de um caminho a ser seguido num futuro incerto – um Planejamento Estratégico. Entre muitas metodologias, podemos encontrar aquelas que se propõem a estruturar um diagnóstico mais claro dos diferentes ambientes de negócio, outras que ajudam a esclarecer e a definir um posicionamento único, outras para garantir uma melhor organização e priorização de objetivos, metas e ações, etc. Ao final, diretores, presidentes e até mesmo conselhos esperam ter uma visão final do que está sendo proposto. Mesmo que estejamos já em 2021, num contexto VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) e pandêmico, há aqueles que desejam ter em mãos o roteiro final que deverão perseguir. Qual é o problema disso?

A meu ver, estes gestores perdem o ponto. O FIM no título do artigo se refere mais à finalidade (propósito) do que ao término, e neste sentido destaco: o conjunto de exercícios envolvidos na construção de um Planejamento Estratégico, se adequadamente conduzidos e explorados com competência, terão um valor infinitamente maior para a organização que a própria visão final em si. Por quê? Porque o aprendizado e o amadurecimento das pessoas – e da organização – ocorre ao longo do exercício. E quero destacar apenas 2 aprendizados aqui, como exemplos: o da construção da memória do futuro, e o exercício da convergência.

Sobre a construção da memória do futuro, trata-se de um conceito defendido por Arie de Geus em seu livro A Empresa Viva, e que conecto com as visões mais modernas de Eric Ries, em A Startup Enxuta.

Partimos da constatação evidente de que o futuro não pode ser previsto, e que não temos respostas seguras para perguntas do tipo “O que acontecerá no segundo semestre?”, ou “Como meu cliente reagirá a determinada alteração em meu produto?”. No entanto, podemos e devemos construir, através de exercício diligente, hipóteses, cenários e, cada vez mais, experimentos a partir de novas indagações do tipo “Se certa hipótese for verdadeira (ou falsa), como deveremos agir?”, ou “Caso percebamos certo sinal do mercado, o que faremos?”. E então, quando determinados fatos se desenrolarem conforme algum cenário previamente considerado, teremos a impressão de já termos vivenciado aquilo antes, ao menos em nossa memória do futuro. Isso reforçará o aprendizado sobre essa própria prática e aumentará cada vez mais as chances de construção de cenários mais assertivos. Todas as empresas centenárias (especialmente aquelas com mais de 200 ou 300 anos de história) tem se apoiado nessa prática para se manterem relevantes e competitivas em seus mercados escolhidos, independentemente de qualquer modismo gerencial.

Sobre o exercício da convergência, destaco o aspecto psicológico envolvido, uma vez que partimos da premissa de que não nos valeremos das eventuais posições hierárquicas num momento extremamente crítico para a construção do senso de responsabilidade coletiva e de confiança num grupo: o momento da tomada de decisão. Com a convergência, os diferentes pontos de vista são respeitados e não há um esforço muitas vezes sofrível (e inútil, irreal) pela obtenção de um consenso. A partir de uma argumentação consistente, baseada em informações disponíveis a todo o grupo e em benefício de um movimento organizacional único, todos escolhem direcionar seu empenho em dado momento a certa direção. Ao menos até que seja necessária uma nova convergência, a partir de novos fatos ou novas hipóteses.

Assim, finalizo reforçando meu ponto: o produto mais valioso de um processo de Planejamento Estratégico deve ser o aprendizado gerado ao longo deste processo e, consequentemente, o amadurecimento para repeti-lo de forma dinâmica, como prática recorrente de GESTÃO. A incorporação de hábitos de reflexão e questionamento, uma vez que são as perguntas (e não as respostas) que movem o mundo, e também de novas dinâmicas de proposições e experimentações, em um ciclo de feedback virtuoso.

Photo by airfocus on Unsplash FONTE: LINKEDIN DO AUTOR

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