ENTREVISTA/FERNANDO CARVALHO DIRETOR DA AGÊNCIA DE INVESTIMENTO E COMÉRCIO EXTERNO DE PORTUGAL
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ENTREVISTA/FERNANDO CARVALHO DIRETOR DA AGÊNCIA DE INVESTIMENTO E COMÉRCIO EXTERNO DE PORTUGAL

Com base na ampla vivência internacional que o senhor possui e, ainda, na grande experiência no fomento de negócios para a economia de Portugal, como o senhor avalia o mercado brasileiro hoje no ponto de vista de atração para os empreendedores portugueses?

O Brasil é, e tem sido desde sempre, um mercado com um forte potencial de atração sobre as empresas portuguesas, desde logo por duas ou três razões essenciais: a dimensão do mercado, a sua diversidade e o seu potencial de crescimento e, também, pela facilidade de comunicação.

Sendo a maior economia da América Latina e uma das maiores economias a nível global, com os seus cerca de 200 milhões de consumidores potenciais, com estratos muito significativos de elevado poder de compra, e cuja língua partilhamos (ainda que com ligeiras diferenças de vocabulário e de sintaxe), é, por isso, extremamente atrativo para as empresas portuguesas tentarem procurar o seu espaço de oportunidades neste mercado para colocar os seus produtos ou vender os seus serviçs.


Existem por parte de empreendedores portugueses áreas específicas de de eme interesse quando se trata de investir no Brasil?

Como disse, a dimensão do mercado e o seu potencial decrescimento em termos de consumo, bem como em termos das necessidades infraestruturais, são os grandes fatores de atração

As elevadas taxas de crescimento que o Brasil registou em anos passados e o aumento substancial de poder de compra de uma parte substancial da população do país gerou uma procura de bens de consumo que, naturalmente, as empresas portuguesas sempre pretenderam aproveitar, tanto mais que alguns dos nossos produtos gozam de uma imagem de qualidade muito boa junto dos consumidores brasileiros.

Mas também em outras área, como a da energia, das tecnologias, das máquinas e equipamentos, do material de transporte e dos serviços à industria e às empresas em geral, são segmentos que se revelam atrativos para as empresas portuguesas e nos quais temos capacidades competitivas que podem ser aproveitadas.


E fazendo a análise inversa, quais as principais oportunidades para os brasileiros interessados em empreender em Portugal? Há algum incentivo por parte do governo português?

Portugal é uma economia madura e bastante diversificada e, acima de tudo, plenamente integrada no maior bloco econômico global que é o espaço da União Europeia e que oferece aos investidores estrangeiros um conjunto de mais valias, que vão desde os custos de operação à qualidade das infraestruturas, desde a segurança à excelência dos recursos humanos, desde a estabilidade política e macroeconômica ao ambiente inovador e ao empreendedorismo tecnológico.

Neste contexto, investindo em Portugal aproveitando estas mais valias, os empreendedores e as empresa brasileiras terão mais facilmente a possibilidade de explorar as oportunidades de um mercado de 500 milhões de consumidores, com elevado poder de compra e que permite às empresas brasileiras internacionalizarem-se num ambiente altamente competitivo, em setores onde elas já têm um expertise muito interessante, como seja nos segmentos aeronáuticos, automotivos, de produtos de consumo, de tecnologias de informação e comunicação, entre outros, sem esquecer o empreendedorismo associado às startups no qual o Brasil é fértil.

Portugal tem um conjunto de programas – no contexto do Portugal 2020 e de outros instrumentos – para apoiar os investidores, sejam eles nacionais ou estrangeiros, e aos quais os investidores brasileiros podem recorrer, onde são colocados à disposição dos empreendedores benefícios fiscais e incentivos financeiros quer para investimentos produtivos inovadores, quer para investimentos em pesquisa e desenvolvimento ou em ações de internacionalização quer, ainda, para a contratação de mão-de-obra e de quadros altamente qualificados.


O país é considerado por muitos, e também pelos brasileiros, uma porta de entrada para a Europa. Isso, de fato, é real? Pode dar algum exemplo?

O espaço económico da União Europeia, no qual Portugal está integrado, e que constitui um mercado único de 500 milhões de consumidores repartidos por 28 países, é um mercado de livre circulação de mercadorias e serviços, de pessoas e de capitais.

Não existem, portanto, quaisquer obstáculos de natureza aduaneira ou fiscal à movimentação de mercadorias e à prestação de serviços. Isto significa que qualquer empresa que produza no território português poderá colocar os seus produtos ou prestar os seus serviços livremente em qualquer parte do território da União Europeia, sem qualquer restrição de natureza administrativa, com a vantagem de, localizando-se em Portugal, beneficiar de custos de operação mais vantajosos relativamente a outros países da UE.


Quais os principais fatores indutores da expansão de investimentos em Portugal?

E existem pré-requisitos para o investidor brasileiro ingressar nesse mercado?

Portugal não tem restrições ao investimento estrangeiro, estando, aliás, em 7º lugar (entre 137 países) no indicador do Forum Económico Mundial sobre esta questão.

Aquilo que aconselhamos a qualquer investidor brasileiro, no entanto, é que visite, estude e avalie o mercado português cuidadosamente, as suas oportunidades e potencialidades, mas também as suas idiossincrasias próprias que são, naturalmente, diferentes das do Brasil. Uma análise cuidadosa do mercado e uma escolha criteriosa dos parceiros é essencial a qualquer tomada de decisão de investimento, seja em que mercado for.


Como a Aicep Portugal Global ajudar os interessados dos dois países?

A AICEP Portugal Global – Agência de Investimento e Comércio Externo de Portugal, é órgão oficial do Estado português responsável pela internacionalização da economia portuguesa, atuando na tripla vertente de (1) apoio às exportações de produtos e serviços portugueses, (2) apoio ao investimento português no estrangeiro e (3) captação de investimento estrangeiro para Portugal e apoio a esses investidores.

Em qualquer dos casos, a AICEP, através dos seus serviços centrais em Portugal ou das suas 62 delegações espalhadas pelo mundo, presta informações estratégica sobre Portugal ou sobre os mercados onde está presente, pesquisa e fornece a informação regulamentar e de acesso aos mercados e, tanto quanto possível, orienta nos contatos com instituições da administração pública e presta aconselhamento às empresas e aos investidores.


Portugal vive atualmente um momento favorável, com perspectiva de crescimento, enquanto o Brasil enfrenta desafios políticos e econômicos. Esse cenário brasileiro pode impactar nas relações entre as empresas dois países?

Os empresários sempre olham, não apenas para as oportunidades e perspectivas econômicas, mas também para a estabilidade política e social e para a segurança jurídica dos mercados onde pretendem operar.

Como tem sido reconhecido pelas próprias autoridades brasileiras, a crise econômica e a fase de alguma incerteza política que o Brasil tem vindo a atravessar coloca, naturalmente, desafios importantes aos investidores, o que justifica, de certa forma, o abrandamento que se verificou nos últimos anos no investimento direto de empresas portuguesas no Brasil.

No entanto, estas fases apresentam também, na maioria das vezes, excelentes oportunidades de negócios e, no caso da relação econômica entre o Brasil e Portugal, elas têm sido aproveitadas por ambos os países, o que se tem refletido no incremento significativo dos fluxos de comércio entre os dois países (que em 2017 registou uma taxa de crescimento de 36%, contra as taxas de -4% e -5% que tinham sido registadas em 2014 e 2015)


Há algum estudo específico sobre o potencial da economia mineira e as empresas portuguesas instaladas no estado?

Infelizmente não temos um estudo atualizado sobre a presença das empresas portuguesas em Minas Gerais nem no Brasil. No entanto, a Embaixada de Portugal no Brasil e a AICEP, com o apoio das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil, estão a realizar um levantamento da presença de empresas portuguesas e de capitais portugueses no Brasil que nos permita conhecer com mais detalhe esta realidade e, naturalmente, nos permita desenhar e desenvolver instrumentos de apoio a essas empresas e às empresas portuguesas que querem investir ou operar no Brasil.


Em relação ao turismo, qual o peso da participação dos brasileiros no bom desempenho observado na área, em Portugal, nos últimos anos?

Hoje, o Brasil é o quinto maior mercado de turistas em Portugal e o maior mercado fora da Europa. Os turistas brasileiros são o grupo que mais cresceu relativamente aos grandes mercados de emissão de turistas para Portugal, tendo esse crescimento (que foi de 39% em 2017, continuando a crescer nos primeiros meses deste ano) sido sentido em todas as regiões do país e não apenas em Lisboa ou Porto.


O que ajudou os turistas brasileiros a “descobrirem” Portugal?

Como alguém dizia há pouco tempo, o Brasil está casado com Portugal há 500 anos anos, mas só agora começou o namoro.

Julgo que esta descoberta resulta da conjugação de vários fenômenos, tais como as dificuldades atuais do mercado brasileiro, a boa situação que Portugal atravessa tendo saído com sucesso de um período bastante duro de ajustamento estrutural, a presença de uma comunidade luso-brasileira bastante empreendedora e que redescobre e divulga no Brasil uma imagem muito positiva do nosso país e, naturalmente, o efeito multiplicador da informação que o turista brasileiro transmite aos amigos e familiares ao descobrir um país que já não é a “terrinha”, mas sim um país moderno, seguro, com qualidade de vida, hospitaleiro para quem o visita e que acolhe, com carinho, os irmãos do outro lado do Atlântico.


Que orientação o senhor deixa para os empresários mineiros e portugueses?

Minas Gerais é talvez o Estado brasileiro com maior afinidade com Portugal e, curiosamente, com uma estrutura empresarial similar, em termos da importância das pequenas e médias empresas na sua estrutura econômica, com focos significativos de inovação e empreendedorismo.

Deste modo, entendo que existe uma boa base de partida para as empresas mineiras e portuguesas explorarem sinergias e complementaridades que permitam expandir e alargar os seus mercados respectivos. Para isso, é essencial que aprofundem o seu conhecimento mútuo, através, por exemplo, da realização de missões empresariais em ambos os sentidos.

A Câmara Portuguesa de Comércio de Minas Gerais, tem tido aqui um papel fundamental como plataforma de apoio a este conhecimento mútuo, como a entidade que melhor está apetrechada para ser capaz de fazer a intermediação entre estes dois “mundos” econômicos, apoiando as empresas de um e de outro lado do Atlântico a se interconectarem e a explorarem as oportunidades existentes em ambos os mercados.


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